"Querida filha, só estou escrevendo esse texto porque você ainda não sabe ler. Do contrário, eu não escreveria. É que você ia ficar bem chateada em saber que o seu peixe, o Lilinho, morreu.
De modo que aquele que está no seu aquário agora é bem parecido, mas não é o Lilinho. Sua mãe - as mães são assim -, sem que você soubesse, resolveu comprar outro e por no lugar dele. Foi uma coisa bem rápida, filha: você acordou, contou que o Lilinho estava dormindo de maneira estranha, "de cabeça para baixo" e logo vimos o tamanho do problema.
Foi então que tivemos que decidir entre contar a verdade ou driblar o destino. Deixar que essa fatalidade tomasse conta do seu coraçãozinho em formação ou desafiar as possíveis consequências de uma mentira como essa. E se você notasse? E se você viesse a perceber a diferença de tamanho? Ou pior, se descobrisse uma nadadeira a menos?
Ainda bem que nada disso aconteceu. Ainda bem, minha filha. Seus pais conseguiram adiar minimamente esse sentimento terrível que a perda dá. Fatalidades não são algo que crianças tem que saber. Crianças, aliás, não deveriam saber de nada ruim - somente que os peixes nadam, que os passarinhos voam, e que os avôs avoam.
Por isso mesmo é que estou aqui, contando essa história. Para que você um dia saiba que a sua mãe e o seu pai interferiram no circuito; e deixaram ele menos curto. Fica então uma dica pra você, sempre que possível, interfere: nada precisa ser como é."
De modo que aquele que está no seu aquário agora é bem parecido, mas não é o Lilinho. Sua mãe - as mães são assim -, sem que você soubesse, resolveu comprar outro e por no lugar dele. Foi uma coisa bem rápida, filha: você acordou, contou que o Lilinho estava dormindo de maneira estranha, "de cabeça para baixo" e logo vimos o tamanho do problema.
Foi então que tivemos que decidir entre contar a verdade ou driblar o destino. Deixar que essa fatalidade tomasse conta do seu coraçãozinho em formação ou desafiar as possíveis consequências de uma mentira como essa. E se você notasse? E se você viesse a perceber a diferença de tamanho? Ou pior, se descobrisse uma nadadeira a menos?
Ainda bem que nada disso aconteceu. Ainda bem, minha filha. Seus pais conseguiram adiar minimamente esse sentimento terrível que a perda dá. Fatalidades não são algo que crianças tem que saber. Crianças, aliás, não deveriam saber de nada ruim - somente que os peixes nadam, que os passarinhos voam, e que os avôs avoam.
Por isso mesmo é que estou aqui, contando essa história. Para que você um dia saiba que a sua mãe e o seu pai interferiram no circuito; e deixaram ele menos curto. Fica então uma dica pra você, sempre que possível, interfere: nada precisa ser como é."