quarta-feira, 27 de abril de 2011

Finges que não queres ver... Mas sempre me vais olhando...

Ontem vendo a série Divã, que diga-se de passagem virou meu mais novo vício televisivo, ouvi um poema que me chamou muito a atenção, pedi ajuda para saber de quem era o poema e o amigo Roni com toda a sua eficiência logo me passou os dados da obra. Florbela Espanca trata-se de uma poetisa portuguesa cuja vida de trinta e seis anos foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.

Segue o poema que me achamou a atenção...

Lágrimas Ocultas
Livro de Mágoas, Poemas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…


E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!


E fico, pensativa, olhando o vago…
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…


E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Porém pesquisando sobre ela achei um blog sobre ela com muitos textos ótimos e pelo menos um destes merece ser destacado aqui... segue:


Desdém
Trocando Olhares, Poemas

Andas dum lado pro outro
Pela rua passeando

Finges que não queres ver
Mas sempre me vais olhando.


É um olhar fugidio,
Olhar que dura um instante,
Mas deixa um rasto de estrelas
O doce olhar saltitante…


É esse rasto bendito
Que atraiçoa o teu olhar,
Pois é tão leve e fugaz
Que eu nem o sinto passar!


Quem tem uns olhos assim
E quer fingir o desdém,
Não pode nem um instante
Olhar os olhos d’alguém…


Por isso vai caminhando…
E se queres a muita gente
Demonstrar que me desprezas
Olha os meus olhos de frente!…


Vale muito a pena dispensar alguns minutos para apreciar a obra dela...

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