segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Mais Marta Medeiros...
Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual
a gente se apega. Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual
a gente se apega. Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
O perdão que eu preciso....
Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair
Chico Buarque - Mil perdões
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair
Chico Buarque - Mil perdões
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
MIRAGEM
Homem somente pinta o cabelo desesperado. Ou é emo ou é político.
Brizola desistiu de sua candidatura a presidente quando apareceu com cabelo acaju. Seu índice de rejeição assumiu uma proporção inestimável.
Pintar cabelo é um manifesto feminino. O equivalente ao serviço militar obrigatório.
Depois de dezoito anos, é mais do que um experimento, é mudar de vida. Pode sinalizar uma separação, um novo namorado, último recurso para adiar uma dieta, desistência da terapia.
* * *
Serve também para desafiar as mechas maternas. Tanto que a menina desmama quando pinta os cabelos. Um contra-ataque ao coque e trança, artesanatos de postura impostos dentro de casa para ir à escola e festas. Uma revolta ao regime tirânico do laquê, mousse, cera e gel, que obrigava o rosto a permanecer imóvel. Corresponde a mais importante desobediência doméstica. É quando a moça se desarma, se ama e assume a sexualidade de sua brincadeira.
* * *
Superior ao signo e ao histórico escolar, a mulher entende que é pelo cabelo que se apresenta ao mundo. É pelo cabelo que ditará seu perfil, provará que é dramática, romântica, tímida, expansiva, agressiva, esportiva.
Com a bolsa e as sobrancelhas, forma a sagrada trindade da personalidade.
* * *
A idealização do marido não alcança a idealização cromática dos fios.
Ela delira com um cabeleira de bordas, redonda, macia, desembaraçada, lustrosa. Aquela espontaneidade onde não se enxerga o fim. Uma cabeleira infinita. Dobrando o oceano dos ombros. Vibrante.
* * *
Mas é quase impossível concretizar a metamorfose. Por mais que cada uma siga as instruções da bula.
É como imitar as pinceladas de Van Gogh. Como imitar as formas sensuais das banhistas de Monet. Como imitar os movimentos de tons da ciranda de Matisse.
Pintar os cabelos será a primeira traição que o mulherio enfrenta.
* * *
A dureza já encontra seu auge no início. Nem toda mulher quer ser loira, mas toda mulher precisa ser loira. É um pedágio para encontrar a coloração do sonho. Se ousar partir do matiz original para repetir as caixinhas, o espelho quebra. Obrigatório clarear para diminuir o desastre. Na ambição de ser ruiva, uma morena descobrirá o vermelho beterraba, longe do brilho e da intensidade da embalagem. Terá na cabeça um incêndio apagado, sem labaredas, terra devastada, cinzas e fuligem. Só com muita generosidade para chamar aquilo de ruivo, é o mesmo que confundir espinhas com sardas.
* * *
Muçulmanas, católicas, evangélicas, luteranas, taoístas, batistas… Não há religião que salve. O milagre nunca acontece conforme rezado.
Tingindo de amarelo verão, na ânsia de reproduzir os ares praianos de surfista e aventureira, o máximo que conseguirá é cabelo palha de inverno.
A decepção não tem fundo. São quarenta minutos de expectativa frustrada.
Cereja terminará marrom. Após cinco lavagens, torna-se água suja. O preto azulado — que ninguém avisa — dependeria de licitação da Secretaria de Obras. É, essencialmente, piche. Para tirar, apenas cortando.
* * *
Conhecerá a maldição de fadas. A dissolução do castelo. Ao adormecer como Marilyn Monroe e seu fulgurante platinado, acordará como Cicciolina em fim de carreira.
Crônica publicada no site Vida Breve
Homem somente pinta o cabelo desesperado. Ou é emo ou é político.
Brizola desistiu de sua candidatura a presidente quando apareceu com cabelo acaju. Seu índice de rejeição assumiu uma proporção inestimável.
Pintar cabelo é um manifesto feminino. O equivalente ao serviço militar obrigatório.
Depois de dezoito anos, é mais do que um experimento, é mudar de vida. Pode sinalizar uma separação, um novo namorado, último recurso para adiar uma dieta, desistência da terapia.
* * *
Serve também para desafiar as mechas maternas. Tanto que a menina desmama quando pinta os cabelos. Um contra-ataque ao coque e trança, artesanatos de postura impostos dentro de casa para ir à escola e festas. Uma revolta ao regime tirânico do laquê, mousse, cera e gel, que obrigava o rosto a permanecer imóvel. Corresponde a mais importante desobediência doméstica. É quando a moça se desarma, se ama e assume a sexualidade de sua brincadeira.
* * *
Superior ao signo e ao histórico escolar, a mulher entende que é pelo cabelo que se apresenta ao mundo. É pelo cabelo que ditará seu perfil, provará que é dramática, romântica, tímida, expansiva, agressiva, esportiva.
Com a bolsa e as sobrancelhas, forma a sagrada trindade da personalidade.
* * *
A idealização do marido não alcança a idealização cromática dos fios.
Ela delira com um cabeleira de bordas, redonda, macia, desembaraçada, lustrosa. Aquela espontaneidade onde não se enxerga o fim. Uma cabeleira infinita. Dobrando o oceano dos ombros. Vibrante.
* * *
Mas é quase impossível concretizar a metamorfose. Por mais que cada uma siga as instruções da bula.
É como imitar as pinceladas de Van Gogh. Como imitar as formas sensuais das banhistas de Monet. Como imitar os movimentos de tons da ciranda de Matisse.
Pintar os cabelos será a primeira traição que o mulherio enfrenta.
* * *
A dureza já encontra seu auge no início. Nem toda mulher quer ser loira, mas toda mulher precisa ser loira. É um pedágio para encontrar a coloração do sonho. Se ousar partir do matiz original para repetir as caixinhas, o espelho quebra. Obrigatório clarear para diminuir o desastre. Na ambição de ser ruiva, uma morena descobrirá o vermelho beterraba, longe do brilho e da intensidade da embalagem. Terá na cabeça um incêndio apagado, sem labaredas, terra devastada, cinzas e fuligem. Só com muita generosidade para chamar aquilo de ruivo, é o mesmo que confundir espinhas com sardas.
* * *
Muçulmanas, católicas, evangélicas, luteranas, taoístas, batistas… Não há religião que salve. O milagre nunca acontece conforme rezado.
Tingindo de amarelo verão, na ânsia de reproduzir os ares praianos de surfista e aventureira, o máximo que conseguirá é cabelo palha de inverno.
A decepção não tem fundo. São quarenta minutos de expectativa frustrada.
Cereja terminará marrom. Após cinco lavagens, torna-se água suja. O preto azulado — que ninguém avisa — dependeria de licitação da Secretaria de Obras. É, essencialmente, piche. Para tirar, apenas cortando.
* * *
Conhecerá a maldição de fadas. A dissolução do castelo. Ao adormecer como Marilyn Monroe e seu fulgurante platinado, acordará como Cicciolina em fim de carreira.
Crônica publicada no site Vida Breve
Assinar:
Postagens (Atom)